terça-feira, 15 de março de 2011

SETE SÍLABAS

SETE SÍLABAS

São versos de sete sílabas
que aqui vos vou escrever.
Versos à moda do povo,
onde ele mostra o seu saber.

Nobre Pátria, nobre Pátria,
quem por ti não sente amor?
Deusa da Guerra e das Ondas
Princesa de alto valor...


IMAGENS

Num leve cigarro a arder,
lentamente e sem parar,
eu vejo a imagem da vida
que é leve sopro no ar.

Na fria neve cobrindo
as serras, tão branca e pura,
eu vejo a imagem de encanto
de virginal formosura.

No sossego embalador
que a doce bonança traz
às ondas do mar revolto,
eu vejo a imagem da paz.

No gentil botão de rosa
na roseira a florescer,
vejo a imagem sagrada
duma criança a nascer.

Numa expressão assassina
que um semblante humano exprime,
vejo essa coisa terrível:
a negra imagem do crime.

Numa noite muito amena
de argênteo e lindo luar,
vejo a imagem do Criador
Verbo Ser e Verbo Amar.

1937


PORTUGAL

Portugal - terra de encantos.
Portugal -terra tão linda.
Portugal -terra de santos.
Portugal -de glória infinda.

Portugal -terra de amores.
Portugal -terra ideal.
Portugal- terra de flores,
és um jardim sem rival.

Portugal terra de sonho.
Terra de sonho e saudade.
Quando o olhar em ti deponho
Portugal, tenho vaidade.

Portugal-Terra de afagos,
linda noiva enamorada,
a viver em sonhos magos
qual uma moira encantada.

Portugal dos cavaleiros,
na guerra de espada em riste.
Terra de cravos fagueiros,
das rosas, do goivo triste.


Portugal de árvores frondosas
beijadas pela frescas brisas,
terra de mulheres formosas
no amor ternas e lisas.

Portugal das caravelas,
nas altas ondas do mar.
Portugal das coisas belas
e guitarras ao luar.

Portugal com céus de estrelas
no firmamento a brilhar.
Portugal das moças belas
à luz da lua a sonhar.

Portugal das finas lendas
que teceu a tradição,
brancas , brancas como rendas
a falar ao coração.

Portugal das andorinhas,
núncias mansas de ventura
e das místicas tardinhas
de asas brancas pela altura.

Portugal das largas eiras
cobertas de milho loiro,
jardim de frescas ribeiras
onde rebrilha um sol de oiro.

Portugal das capelinhas
erguidas nos altos montes;
novenas e ladainhas
e rezas puras das fontes.

Portugal das romarias,
de santinhos milagrosos,
de melões e melancias
e de doces saborosos.

Portugal dos pinheirais
de verde e de negra cor,
onde a rola chora e reza
as mágoas de sua dor.

Portugal de coisas tantas
que nem se podem dizer:
heróis, poetas e santos:
abrir os olhos e ver.

1937


DIZER ADEUS

Dizer adeus é pungente,
como as coisas que o são.
Pode o rosto estar contente,
mas a alma essa é que não.

Palavra tão pequenina!
Tão pequenina é verdade...
mas ela é imensa e divina
nessa chama de saudade.

Bem contra a minha vontade
não digo adeus a ninguém.
Quem parte leva saudades,
quem fica saudades tem.

1938


Romarias

romarias, romarias,
deste pais sem rival.
Vibra ali sem fingimentos
a alma de Portugal.

Desde que o dia amanhece
até alto madrugar,
a pura luz da alegria
anda no peito a cantar.

Roubar ao nosso bom povo
esta franca animação,
é roubar-lhe a própria vida,
é matar-lhe o coração.

Alegre vai a cantar
a moça para a romaria:
saúde e vida a estuar
à radiosa luz do dia.

Rufa a viola aldea
anima-se a gente toda;
baila, pula, o coração
há cantigas, gira a roda.

Durante a danca, contentes,
há risos , trocam-se olhares,
almas em chamas ardendo,
corações amam-se aos pares.

Vamos todos para a roda,
rapazes e raparigas.
Anime-se a gente toda
ao som das frescas cantigas.

1939


ILUSÕES

No meu peito vão tombando
mil saudades uma a uma
dum passado que se esfuma
-ilusões dum belo quando.

No meu peito vão descendo
as lembranças do passado,
um céu de luz anilado
qual aurora amanhecendo.

Meu peito é um ninho já frio
donde as minhas ilusões
partem loucas aos milhoes
qual um cortejo sombrio.

Os meus sonhos cor-de-rosa,
cheio de amor, de alegria
lá foram, noite saudosa,
e jamais volta a ser dia.

No meu peito vão tombando
mil saudades uma a uma;
e eu choro, choro que,em suma,
a vida me vai matando.

1940


ADEUS

O adeus que nao desfaz
os liames da afeição,
é sino tocando triste
e o badalo o coração.

Adeus é folha caída
da haste que a segurou;
adeus, adeus é saudade
por um bem que nos deixou.


PENSAMENTOS

nos caminhos vou pisando
espinhos que a vida tem;
de tudo tenho saudades
sem saudades de ninguém.

Todos na fonte da vida
-embora nos cause dó
somos tolos varridinhos
a gritar e a falar só.

Horas mortas no meu leito
onde o meu corpo adormece
não sei por que estranho medo
todo o meu ser estremece.

Do relógio como pêndulo
para a esquerda para a direita
assim é meu pensamento:
ora quer ora rejeita.

O relógio é uma trombeta
de funda sonoridade
que diz que o tempo se some
no fundo da Eternidade.

Pôr-do-Sol: fumos no ar.
Em cismas logo me afundo.
O de ser o homem fumo
a fugir para outro mundo.

Eu quero agarrar a vida
eu quero mas não agarro
que a vida queima-me e foge
qual o lume dum cigarro.

Abismos existem muitos
mas nisto pondero e cismo
sendo o homem tão pequeno
que grande e profundo abismo.

As canções que já não canto
e que dantes já cantei
andam perdidas nas brumas
das saudades que deixei.

Saudade, que és tu saudade?
Ansiedade, sonho e grito.
Vislumbres de claridade
fundo mistério, infinito.

Uma fonte que murmura
fundas tristezas sem fim
é irmã desta que oiço
a cantar dentro de mim.

Asas leves, leves, leves
asas leves a rufar.
ânsias para Deus que me abrasas
com elas quero voar.

Oh ventos em sinfonia
que embalais a noite escura
embalai meu pensamento
num sonho de mais altura.

Amor é fogo divino
que nos dá prazer e dor
amor é coisa tão rara
que nem sei se existe amor.

Cá vou na barca da vida
barca imensa de abismar
ceguinhos de olhos abertos
sem saber onde vai dar.


ENIGMA

vão caindo badaladas,
sobre a noite escura, lentas.
Na minha alma vais caindo
saudade, que me atormentas.

Surge na serra o luar
magoada flor da amplidão
espargindo pérolas de luz
no reino da escuridão

hora de enleio e de cisma
e saudade que nos pesa;
no silencio um veio de água
é alma que chora e reza.

A noite penetra em tudo
o mistério me deslumbra
e se o tento desvendar
mais me afundo na penumbra.

Mas a noite envolve tudo,
noite de breu que me assombras,
mãe do Ignoto e Longínquo,
fala do medo e das sombras.

Subo ao mirante da noite
sozinho sem ver ninguém
e fico me horas e horas
sobre o mistério do Além.

1945


CANTIGAS

Ser poeta é sina triste
que nos dá prazer e dor
é sentir bem dentro a vida
e cantá-la com amor.

Ponho os olhos na paisagem
recolho-a dentro de mim
vejo nela a minha imagem
num outro mundo sem fim.

Amor em quem é poeta
no princípio é violento.
No meio, pura amizade
e no fim, esquecimento.

As palavras nunca dizem,
nunca conseguem dizer
metade que os olhos dizem
que os olhos dizem sem querer.

Amo o silêncio do ermo
no ermo é que eu me dou bem.
Ouço ali a voz das coisas:
sou tudo e não sou ninguém.

a louca roda da vida
desterrou a minha infância;
linda aurora já perdida
nessas névoas da Distância.

Onde vais rio de mágoas
onde vais que te não vejo?
Vou engrossar essas águas
desse mar do teu desejo.

Em busca de certas coisas...
mas que coisas? Sei lá delas...
Ai alma que não repousas
em demanda das estrelas...


SAUDAÇÃO

Os nossos olhos ardentes
dizem às gentes
beleza, amor.
Nós somos a mocidade
que, com fé e ansiedade
quer um mundo de outra cor.

Vila Caiz terra linda
na luz infinda
dos vastos céus.
És um mimo do Senhor
que, com arte e com amor
te sonhou pra encantos meus.

No topo dum lindo monte
corre uma fonte
de graça e luz.

É ternura e é carinho
que cai de mansinho
das mãos de Jesus.

Quem nessa terra nasceu
só quer o céu
só quer cantar.
Quer voar plos céus além
ser de Deus de mais ninguém
par melhor a Deus chegar.

Quem sobe ao alto da serra
vê muita terra
em toda a volta.
O coração se dilata
a minha alma se arrebata
e por esses céus se solta.

Temos orgulho e vaidade
ó mocidade
de ser daqui.
Onde há terra há formosa
mais garrida e donairosa
na verdade ainda não vi.

Vila Caiz, terra querida
da nossa vida
amor risonho.
Nós queremos quando morrer
em teu berço adormecer
e na morte um leve sonho.

Manhã cedo que consolo
vem da serra o loiro Apolo
dourar as cousas
com beijos feitos de luz

são orações esplendorosas
que a natura ergue a Jesus.

E quando Apolo à tardinha
mesmo à noitinha
vai a tombar
o meu peito então se invade
duma onda de saudade
que me faz cismar, cismar.

Vila Caiz, virgem moça
ó Terra nossa
não tens rival
tu és a terra mais bela
mais gentil e mais singela
das terras de Portugal.

1956


PARA CANTAR

Nós somos a mocidade
nosso peito é de eleição.
Que goza e quer liberdade
que não manche o coração

A fonte das alegrias
não nos quer ver a chorar
vinde pra roda , Marias
toca a dançar, a cantar

vamos á roda que a gente
é qual uma ave gentil
que bate as asas, contente
em frescas manhãs de Abril

Nossos corações pulando,
no peito com alegria,
são cotovias cantando
ao romper do claro dia

raparigas vá de roda
toca a dançar a cantar;
mocidade ergue-te toda:
as asas são pra voar

nossas almas sejam lírios
de virtude e santidade
os corações cravos tírios
de frescura e castidade

vá de rodas raparigas
vá pra bem longe a tristeza:
à viola haja cantigas.
viva a alma portuguesa.
1940


MOÇAS DA MINHA ALDEIA

O ter saudade é chorar
algum bem que se perdeu
e o alegre despontar
doutro bem que amanheceu

ó moças da minha aldeia
ó moças de Portugal
a vossa graça me enleia
qual de vós é o meu ideal
ó moças da minha aldeia
lindas flores de Portugal.

Ó moças da minha aldeia
ó ditosas raparigas
em noites de lua cheia
cantai as vossas cantigas.
Como é linda a minha aldeia
com tão frescas raparigas.

Ó moças da minha terra
jóias deste Portugal
minha alma a vós se descerra
pra escolher o meu ideal.
Ó moças da minha terra
mais lindas de Portugal.

1953
MOMENTOS

quando vivo amor se sente
por alguém, no coração,
mil receios tem a gente
de perder essa afeição.

Eu beijei a luz do sol
radiante lá nos céus
quem beija o sol beija a luz
quem beija a luz beija Deus.


CANTIGAS DOS ROMEIROS

Virgem Senhora da Graça,
desta aldeia Padroeira
Dá-nos , Mãe, a tua graça
à tua gente romeira

Nós vimos, com devoção,
ó luz da serra bendita,
rogar-te do coração
a tua Luz Infinita

De manhã, quando o sol nasce
vem beijar-te de mansinho
e depois com ele na face
beijas o nosso caminho.

Ouve , ó Mãe, a nossa prece
Mãe de Deus, formosa e pura
és a Luz que nos aquece
nos passos da noite escura.

Virgem Mãe, Coração Terso
em cima do teu altar
teu doce olhar é um verso
feito de luz e luar.

1950


SÃO JOÃO

Rapazes e raparigas
ó mocidade louçã
cantemos frescas cantigas
até romper a manhã.

Nós vamos numa frescata
Sob o manto de luar
ver S. João na cascata
que espera o nosso cantar

ò ditosa mocidade
deste nosso belo rancho
gozemos liberdade
siga o rancho muito ancho.

Ó noite de S João
de luz de graça e de cor
vós falais ao coração
de ledos sonhos de amor.

Junho em flor sonho e poesia
travessuras do demónio
por causa da trilogia
de João, Pedro e António

O céu é um lago de prata
com mil estrelas a luzir
a iluminar a cascata
onde o santo está a sorrir

Naquele balão de papel
para o ar em ascensão
vai também junto com ele
num sonho, o meu coração.

Estes cravos cor de lume
no peito de todos nós
dizem amor e ciúme
e gritam paixão atroz.

Que formosos mês de Junho
Que doçura e claridade
de dia foucinha em punho
à noite rusga e saudade.

Que as asas do nosso sonho
rufem num céu de alegria
céu de luz puro e risonho
céu de esperança em sinfonia.

Esta vida é qual um dia
nasce hoje, morre amanhã.
Mocidade é fantasia
de faces cor de romã.

Rapazes e raparigas
deste rancho popular
dançai e cantai cantigas
até o sol despontar.

1952


MOMENTOS

Aquilo que fui morreu.
Eu já to disse mulher.
Uma fogueira que ardeu
jamais se volta a acender.

Beijei teu nome ao luar
o luar o consagrou.
Lancei-o depois ao ar
e no ar se evaporou.

Quem canta seu mal espanta
canta pois com alegria
abre o coração à esperança
que a tristeza chega um dia.

Nesta arte de fingir
o artista é um fingidor
quantas vezes um sorrir
encobre mundos de dor.


A VIDA

A vida é sol ao meio-dia
a jorros pela terra inteira;
vida é estrela fugidia
na imensa curva cimeira.

A vida, enxada cavando,
o campo que se semeia.
É rosa se desfolhando
num coração que pranteia.

A vida é sino tocando
em dias de romaria;
vida é poeta cismando
ao lento cair do dia.


AO SABOR DO POVO

Vou cantar uma cantiga
como canta o rouxinol
ó meu amor da minha alma
como canta o rouxinol.
Rompe o sol da primavera
eu quero cantar ao sol
ó meu amor da minha lama
eu quero cantar ao sol.
Ninguém pode nesta vida
viver gozar sem ter sol.
Ó meu amor da minha alma
viver gozar sem ter sol
A alegria é pão de Deus
aquecida pelo sol.
Ó meu amor da minha alma
aquecido pelo sol.
Que lindo fio de prata
onde brilha a luz do sol
ó meu amor da minha alma
onde brilha a luz do sol.
Enche de encanto os meus olhos
esse oiro que vem do sol
ó meu amor da minha alma
que ricas jóias ao sol.
Nestas andanças da vida
hei-de cantar sempre ao sol
ó meu amor da minha alma
hei-de cantar sempre ao sol.
Hei-de morrer a cantar
sempre sempre à luz do sol.
Ó meu amor da minha alma
sou irmão do rouxinol.

1953


S. GONÇALO DE AMARANTE

S. Gonçalo de Amarante
sou nova , quero casar.
Se não me arranjas marido
vou-me deitar a afogar.

já vou nos meus trinta anos
Trinta anos? Trinta e tal.
Deparai-me um desgarrado,
que dormir só faz-me mal.

Hei-de atravessar a ponte
em dias de romaria
e depois hei-de dançar
tu Manel e eu Maria...


ÁRVORE PRECIOSA

A vida é qual uma árvore,
que quando velhinha cai.

Há uma árvore preciosa.
Sabeis qual é? Nosso pai.

Um pai é obra de Deus
que Deus fez para nos guiar
um bom pai é vermos Deus
na Hóstia sobre o Altar.

O nosso pai é uma fonte
fonte da qual proviemos
bendita seja essa fonte
que nos deu tudo o que temos.

Um pai é sumo tesoiro
na casa de mais pobreza
casas ricas sem um pai
são ricas só na riqueza.

Um pai é tudo na terra
-ó graça que Deus nos deu.
Ele é paz aonde há guerra
onde há noite Ele é o céu.

Uma palavra e um gesto
saídos do nosso pai
são um sinal manifesto
do que na lama lhe vai.

Todo o pai é um artista
na obra da criação
em que Deus pôs complacência
e cobre com sua mão.

Uma casa cuja ausência
dum pai um dia se fez
é qual esposa de luto
numa eterna viuvez

não há graça mais subida
nem na Terra mais encanto
que termos na nossa vida
um pai virtuoso e santo.

Na graça de Deus viveu
sem nunca fugir à lei
amou a esposa e os filhos
a Pátria Lusa e o seu Rei.

Lindo pendão adorado
tecido de azul celeste
nessa cor tão enlevado
quanta fé nela puseste.

A vida é acto sagrado
mistério que nos espanta
o nosso pai tão velhinho
no mistério se agiganta

brilham estrelas lá na altura
brilham na terra outros mais:
no carinho e na ternura
dos olhos dos nossos pais.

O nosso pai vive ainda
ainda mas já morreu
pois quem só vive o Passado
do Presente se esqueceu.

Nosso pai ainda está vivo
está vivo, mas bem pensado:
o pai morreu pró presente
pra só viver o passado.

Qual um menino no berço
dorme o pai sossegadinho
e põe-se a rezar o terço
quando acordo de mansinho.

As saudades que hoje sinto
cá dentro do peito meu
são pombas de asas abertas
a voar num roxo céu.

Palavra de mor beleza
depois de Mãe , é saudade.
É uma chama sempre acesa
vai da Terra á Eternidade.

Coisas exactas, perfeitas
em toda a sua firmeza
é coisa que não existe:
na vida é tudo incerteza.


LADAINHA

Bendita seja a lavra
da pena e da palavra

bendita seja a Cruz
que é redenção e Luz

bendita sejas mulher
no teu amor e bem-querer

E bendito o firmamento
que deslumbra o pensamento.

Bendito seja o luar
de prata a noite a caiar

Bendito sejas , ó malho,
Que nos dás pão e trabalho

bendito aquele que na liça
se bate em prol da justiça

Bendita seja a lavrada
de grãos de oiro semeada

bendito o trigo na eira
do homem amor e canseira
bendita seja a canção
da paz e libertação

bendito o brilho do sol
que dá vida ao caracol.


MOMENTOS

é Inverno. O meu telhado
chora, chora, mas não sente;
chora chora sem saber.
Ai assim chorasse a gente!

Não os quero cristalinos
os meus versos, nem de espuma;
apenas quero que tenham
essa saudade da bruma.

É bem nossa a liberdade
não a damos a ninguém
e ninguém tenha a ousadia
de roubar tão grande bem.

Eu não nasci pra ser freira
mas sim pra cumprir a lei,
que um dia Deus nos impôs
-povoai a Terra - crescei

Ó gota de água que cais
na Terra que tudo cria.
Filha do mar donde sais
és fartura és alegria.

Branca lua a vaguear
na curva imensa do céu
ao ver-te fico apensar
neste enigma que sou eu.

Ó minha velha janela
onde eu já tanto sonhei
não sei dela, não sei dela,
e...de mim, também não sei.

Um momento passa,
um momento vem.
Ave que esvoaça
pelos céus além

vendaval de morte
viração suave
fala doce ou grave
de boa ou má sorte

mentira e verdade
verdade ou mentira
que mata a vontade
como à paz a ira.

Bem ou mal vivida
nisto se resume
o fluir da vida
eterno queixume.


VIDA

Vida é sol de meio dia
A jorrar pela Terá inteira
A Vida é estrela fugindo
Na imensa curva cimeira

A Vida é enxada cavando
A Terra que se semeia;
Flor de ilusão que se apaga
Num coração que pranteia.

A Vida é sino a tocar
Em dia de romaria;
Triste gemer de guitarra,
Com saudades de algum dia.

A Vida é ser pobrezinho,
Pelo mundo a pedir pão;
Pão de amor e alegria
De beleza e perfeição.

A Vida é raro perfume
Duma flor de formosura;
A Vida é vermos a luz




Feliz aquele que no mundo
caminha a passo seguro,
tendo o sol a iluminar-lhe
os caminhos do futuro.

Portugal das coisas belas
onde ternasa avozinhas
à lareira contam estórias
de princesas e rainhas.

Não vale a pena na vida
sonhar, viver ilusões:
as nossas almas são folhas
ao sabor dos furacões.

Vida que Deus nos vai dando
é um sol que vai fugindo
e os anos que vão rolando,
são noite que vai caindo.

O adeus que não desfaz
os liames da afeição
é sino ocndo triste
e o badalo o coração.

Adeus é folha caindo
da fonte que o segurou;
adeus, adeus é sauddade
por alguém que nos deixou.

Dizermos adeus a alguém
é em nosso peito acender
um fogo que acrainhamos
dia e noite sempre arder.

Nem tudo o que nos seduz
e nos faça deslumbrar
é oiro de lei, é luz
que nos faça iluminar.

dai-me a alegria de outrora,
ó Senhora da Alegria!
ando em Sombras, quero a Aurora
quero a luz de um novo dia...

Coisas exactas, perfeitas,
em toda a ´sua firmeza,
é coisa que não existe,
na vida é tudo incerteza.

os versos são sentimentos
vibrando dentro de nós,
São sonhos e pensamentos
à espera de terem voz.

Um verso que sai do peito
atravésdo infinito
é um desej insatisfeito
à busca de Deus, num grito.

É Inverno. O meu telhado
chora , chora mas não sente.
Chora chora sem saber
Ai assim chorase a gente.

A minha rica janela,
onde eu já tanto sonhei?
Não sei dela, não sei dela...
E de mim também não sei...

As saudades que hoje sinto
cádentro do peito meu
são pombas de asas abertas
a voar num roxo céu.

Não há graça mais subida
nm na terra mais encanto
que termos, na nossa vida,
um pai virtuoso e santo.



VIDA

A vida é sol do meio dia
a jorros pla Terra inteira;
vida é estrela fugidia
na imensa curva cimeira.

A vida é enxada cavando
o campo que se semeia;
é rosa se desfolhando
num coração que pranteia.

A vida é sino tocando
em dias de romaria.
vida é poeta cismando
ao lento cair do dia.

A vida é feita de aspereza
que ninguém pode limar;
a vida é feita de mágoas
em convulsões como o mar.



PENSAMENTO

Minha fronte, embala embala
embala o meu pensamento.
O pensar é sofrimento,
triste voz que se não cala.

Pensamento é sol de Julho,
suor de quantas searas;
sangue, carne e nosso orgulho,
luz e esperança em nossas caras.

Pensamento: asas sem penas
já queimadas de cisma.
Ó pensamento és apenas
águia ceguinha a voar.

Esses céu que tu remiras,
pnsamento e nosa dor...
são verdades, são mentiras?
São aparencias de cor?

Disto tudo que nós vemos,
onde está a sua essência?
Da vida-ai- que sabemos?
Pensamento, que é a existência?

Minha fronte embala, ambala,
tem mão no meu pensamento,
essência eluz que se exala
dum monturo de excremento.

De tanto que penso e vejo,
onde a luz da madrugada?
Ai pobre do meu Desejo,
que no fim só vês o nada

Minha fronte, minha fronte,
isto que em meu ser palpita,
onde tem a sua fonte?
Vem duma Luz infinita?

Não embales minha fronte,
a chama do meu pensar
que eu já decobri a fonte
Do meu profundo ansiar.


CAEM FOLHAS

Caem folhas.Vão no vento
por caminhos adiante...
Vou de mim já´tão distante,
mas acho-me em pensamento.

Folhas se cor vão caindo,
seuinhas, mortas no chão.
Ledas esperanças fugindo
Pra não voltar, coração.

Caem folhas, que tristeza!
Mas vê lá, isso que tem?
Fique ao menos a beleza
dum sonho de mais além.

1956



MOMENTOS

Se por acaso estes versos
não forem do teu agrado,
atira-os aos univrsos
e fica o caso arrumado.

Pus-me a fumar um cigarro,
mesmo agora o terminei.
Que tristeza! Eu não agarro...
Não agarro o quê?...Nem sei...

Debrucei-me da janela
para ver no céu o luar...
O luar! que coisa bela!
Que linda flor a boiar!

Quis cantar em ar de festa;
não pude, triste condão!
A vida que nos molesta
é só desgosto e traição.

O vento que vou soltando
é rude e fora de lei,
mas qer rindo quer choando
eu canto conforme se.

Tinha tanto que dizer,
tanto tanto, nm sei bem;
mas o melhor é escrever,
só pra mim pra mais ninguém.

Eu passo a vida a cantar
nomeu reino de ilusão,
pra no fim só encontrar
tédio e dor no coração.

Sem comentários:

Enviar um comentário