terça-feira, 15 de março de 2011

A MINHA ALDEIA

VILA CAIZ

Vila Caiz terra linda,
que nos deste a luz do dia;
és a nossa glória infinda,
nossa esperança e alegria.

Não há terra mais bonita,
Nem há flor de mais encanto;
Vives na luz infinita
Do nosso amor, doce canto.

Quando o sol da nossa vida
os nossos olhos cerrar,
no teu seio, ó mãe querida,
nós queremos repousar.

Pula o nosso coração
da ventura sem igual;
és o mais lindo rincão
dos jardins de Portugal.


ADEUS RIO

Adeus rio dos meus sonhos,
desta terra de eleição;
dentro em breve vais morrer
mas ficas no coração.

A tua imagem tão bela
ninguém a pode olvidar,
pois dentro dos nossos olhos
continuarás a passar.

A tua doce canção
a correr por salgueirais
há-de, ó rio, ouvir-se sempre,
nos versos de Pascoais.

Doce Tâmega, adeus, adeus
meus olhos querem chorar.
Mas como há Deus, lá nos céus,
contas a Deus hão-de dar.

Rio de meigas paisagens,
de sonho, de luz e cor.
Onde o rouxinol cantava
endechas ternas de amor.

Os poetas que inspirast,
com fecunda inspiração,
rio de ledos encantos,
nunca mais te cantarão.

E os pintores que fascinavas
com tua estranha magia,
nunca mais aqui virão
pintar a luz do teu dia.

Rio lindo dos meus sonhos
que tanto sonho embalaste!
És já a voz da saudade
duma flor que cai da haste.

Adeus rio, meu irmão
dessas noites de luar;
és já um rio de lenda
dentro em nós a deslizar.

Adeus, adeus, rio Tâmega
de paisagens divinais.
Não secarás a minha alma,
ó rio de Pascoais.


TRONO

Tens um trono belo
minha Mãe dos céus.
De escopo singelo,
como agrada a Deus.

À frente, um castelo
onde os olhos meus
sobem, num anelo,
para os olhos teus.

Virgem Mãe da Luz
roga ao teu Jesus
Pra mim compaixão.

Que este pecador
precisa de amor,
de paz e perdão.


PRAZER

Que prazer ver a verdura
da minha aldeia Natal!
Um mimo de formosura
Como não há outro igual.

Dá alma à tua figura
teu fundo tradicional.
Terra de Honra, na lonjura
que te fez quase imortal.

Aldeia: meu pensamento.
Aldeia: meu sentimento,
onde me sinto feliz.

Oh terra dos meus encantos,
dos meus sonhos, dos meus prantos.
És tu só: Vila Caiz.


MARCHA

As bocas soltam canções
para a festa anunciar
e os nossos corações
jamais se querem calar.

Jamais se querem calar
jovens na força da luz
haja amor e caridade
e sigamos para a frente
para mostrar a toda agente
a nossa força e vontade.

Somos de Vila Caiz
da ditosa freguesia
onde a gente é bem feliz
porque há paz e alegria.

Preparou-se o S. João
com um júbilo profundo.
O nosso grande ideal
é que o Grupo Cultural
seja o melhor deste mundo.

Ó Mocidade, cantemos com alegria
para chegar o fim do dia
tudo contente e feliz

Ó mocidade
Ó Primavera risonha
grita alto e sem vergonha
somos de Vila Caiz

Vila Caiz, pátrio ninho
tamanho dum coração.
Tu és a jóia mais linda
que gerou minha afeição.

Amemos a nossa terra
nossa mãe -Vila Caiz -
pois quem ama a sua mãe
há-de sempre ser feliz.

Vila Caiz, meu jardim,
beijado pela luz do céus
tu és a obra mais bela
saída das mãos de Deus.

Nossa Senhora do Monte
Nossa Senhora da Graça
Sê sempre o nosso horizonte
na alegria e na desgraça.

Vila Caiz, terra minha
tua alma é perfumada
com as bênçãos da rainha
lá no monte venerada.

Nossa Senhora da Graça,
Não esqueças Vila Caiz.
Com o manto da tua graça
Faz esta terra feliz.


RECORDANDO

As horas que passamos palestrando
o Antoninho e eu, o Armindo Lima
uma vezes de prosa, outras de rima
de política, também, de quando em quando.

O Toninho, com gestos dum actor
a declamar perante uma plateia
tinha tal simpatia e tal calor
que parecia um mar em mará cheia.

E recitava , às vezes a Judia
desse Tomás Ribeiro de D Jaime
e outras vezes, então, esse cativo

melro de Junqueiro (ó neste dia
em que isto recordo, dai-me, dai-me
uma ilusão, Senhor, de que estou vivo).



VILA CAIZ

Por uma capelinha és coroada,
ó minha linda aldeia que eu adoro!
A meio da montanha abençoada,
repousas minha aldeia, onde amo e choro

Lá bem ao fundo és, com amor, beijada,
pelo rio que te faz doce namoro.
Ó minha querida aldeia idolatrada,
em ti eu rezo a Deus, a Deus imploro.

Em ti tudo é beleza, amor e encantos
alvoradas de Abril, risos e cantos
desde o Sol nado, até cair Trindades.

És leda rosa onde a minha alma aspira,
ao sim dolente e triste duma lira,
o perfume agridoce das saudades.


FLOR DE POESIA

Neste Monte consagrado
dum azul claro sem véu
meu coração esperançado
fica mais perto do céu.

Fica mais perto do céu
e de Deus também mais perto
sinto-me aqui menos Réu
das iras de Deus, por certo.

Sagrado Monte da Graça
a viração que aqui passa
enche tudo de alegria.

Lindo altra da minha aldeia
em noites de Lua Cheia
és encanto e és poesia.

Senhora da Graça, 1985


TÂMEGA

Ó rio solitário e rumoroso,
que mágoas levas tu, ao deslizar?
Quem corre assim tão triste e tão saudoso
é porque sente a dor a palpitar.

Ó rio, meu irmão, irmão formoso!
Ó rio, a tua voz quero escutar!
À tua beira eu sinto um doce gozo,
e fico-me, também, a meditar.

Tu corres mansamente, sem enfado.
Por serra, vale e monte e verde prado
e vais morrer depois ao mar fremente.

Mas eu, ó que tristeza e dura sorte,
sou outro rio a caminhar pra morte.
- esse Mar que nos traga avidamente.


MAIS NÁO QUERO

Ausente estou de ti, ó terra amada,
meu ninho onde cresci, onde eu brinquei,
nessa quadra tão linda e descuidada,
- dessa infância saudosa que eu gozei!

Não sei de pena mais amargurada,
- pena que, na minha alma, é hoje, a lei.
Quem te pode esquecer, terra adorada!
Minha terra, jamais te esquecerei.

Tal como um filho que ama a sua mãe,
assim, te amo, também, ó terra amiga,
que minha mãe tu és, tu és, também.

Não desejo riquezas, nem poderes;
só quero que a tua voz de mãe me diga:
- Meu filho, em mim serás quando morreres.


TRINDADES

Lá vem caindo a noite, silenciosa,
por sobre a Natureza entristecida.
Os últimos clarões da luz radiosa
são agora uma tinta já esbatida.

Como num lago, triste, erra saudosa
a Lua, lá nos céus empalecida.
A Lua é uma mulher meiga e formosa
que nos inspira amor, durante a vida.

Como damas de honor castas e belas
a Lua traz um séquito de estrelas.
- rebrilhantes boninas, em cardume.

Nos espaços siderais voga o mistério,
e além, na solidão dum ermitério,
vão caindo Trindades, num queixume.


VERBO PROFECIA

Eu quedo-me a cismar, sobre o Marão,
essa bíblica serra misteriosa;
e a minha alma, então, fica saudosa
e vibra de profunda comoção.

Ressoa, em mim, a voz harmoniosa,
vos sincera de amor e exaltação;
Um hino é esta voz, de devoção.
Em louvor dessa alma religiosa.

Mas nisto eu calo o meu sincero canto:
dentro de mim, cheio de luz e espanto,
cala outra voz sublime de harmonia.

Silencio, pois: O Poeta está a cantar,
nessa lira de fogo e de luar,
O seu canto de amor e profecia.


SENHORA DO VAU

Ó branca capelinha, à beira-rio,
que corre num suave murmurar,
o seu correr eterno é um desafio
em ânsias de chegar primeiro ao mar.

O teu passado, ó capelinha, eu li-o;
a tua história é voz que ouço falar,
por um cair de Outono mui sombrio
quando a boca emudece, pra rezar.

Antigo ermita, neste vale te ergueu,
para, neste silencio e solidão,
ouvir melhor a santa voz do céu

A tua lenda ingénua, ó branca ermida,
é uma saudade eterna, em oração,
em oração a deus, num vale perdida.



MARÃO

Ó serra do Marão, casta donzela,
que te cobres de arminhos em Janeiro,
eu amo esse teu porte feiticeiro,
pois o que é belo só minha alma anela.

Admiro esse teu dorso sobranceiro,
cingido desse véu de noiva bela,
onde arde o beijo puro dessa estrela
que dá vida e que aquece o mundo inteiro.

Senhora do Marão, linda princesa,
do sonho, da saudade e da tristeza
sobre ti pairam signos de Futuro...

O teu cume soberbo de gigante,
rompe as nuvens e beija o céu distante:
musa de Pascoais e Verbo Escuro.


AQUELA IGREJA

Eu amo aquela igreja pequenina
circundada de tristes oliveiras.
Aquela igreja é linda entre as primeiras,
e dentro dela a unção é mais divina.

Aquele povo de fé diamantina
vai lá dentro rezar, horas inteiras,
pra que Deus a ajude, nas canseiras.
Seu peito rude e alma alabastrina.

É escravo do trabalho e da rudeza
- a cultura da terra - essa beleza
que dá o pão e o vinho pró altar.

Igreja tão velhinha, foi em ti
que formaram meu ser e recebi
a luz da fé e a graça de rezar.


SENHORA DO ERMO

Ó Senhora do Ermo, lá na altura,
do teu monte - jardim, que lindo trono!
Tu és benção de amor e de ternura,
nesta tarde nostálgica de Outono.

Ó Senhora do Ermo e da tristeza,
rainha do silencio e abandono!
Os teus olhos são rios de amargura,
pra quem dormir não pode em doce sono.

Nesta paisagem que te cerca, triste,
na cerração da noite, alguém existe
que busca o teu olhar de claridade.

Quem agora te canta é um romeiro,
perdido num espesso nevoeiro,
Senhora do Ermo e Soledade!


AQUELA CASA

Cerrou-se, há pouco ainda aquela casa,
mas que saudade reina nela agora!
Parece ter soluços de quem chora,
calada e intensa dor que o peito abrasa.

Não sei que sinto ao ver aquela casa!..
E todavia é a mesma que era outrora.
A mesma não: que nela já não mora
alguém que agasalhou, em jeitos de asa.

Morreu a sua dona já velhinha,
mas inda a vejo hoje, ali sozinha,
na casa, onde reinou, com singeleza.

Mas há partir, pra nunca mais voltar!
E nessa casa, agora, anda a pairar
sombra roxa e fria da tristeza.


TERRA DO AMOR

Ó Portugal de antigas caravelas,
sobre as ondas, na ronda da Aventura
que não temendo a fúria das procelas,
levaste o mundo inteiro à selva escura!

Ó Portugal de céus cheios de estrelas,
aos milhões a brilhar e a rir, na altura,
as quais vistas daí lembram donzelas,
em promessa de amor e de ternura.

Terra de Luas -Cheias cor de prata;
Das guitarras, à noite em serenata
a Julietas de peitos de alabastro.

Ardem, em ti, paixões cegas, fatais
- e arderão, em versos imortais -
como essa de D. Pedro e Inês de Castro.


O QUE EU TE PEÇO

Ó minha querida Terra bem amada,
ó minha doce Terra portuguesa,
hei-de trazer-te sempre agasalhada,
no coração, qual hóstia de pureza!

Serás sempre, pra mim, Sol de grandeza,
de beleza, sem par, inegualada
a cuja luz a fé é mais acesa,
e a alma em pátrio amor mais abrasada.

Ó Terra minha, meu supremo amor!
por ti, a alma em reza, irei sofrer
dos lances das batalhas o terror.

Basta-me, ó minha terra bem fadada
que após a hora triste de morrer
me receba teu seio, por morada.


BENDITA SEJAS

Bendita sejas, Pátria Portuguesa,
berço de Dom Dinis e de Álvares Pereira,
e berço de Camões que, com beleza,
alto te alevantou, na Terra inteira .

Bendita sejas, Pátria, onde a nobreza
marcou, pelo valor, pela maneira,
como se distinguiu, em guerra acesa,
contra quem ofendeu nossa bandeira.

Bendita sejas, Terra que geraste
destemidos heróis e marinheiros,
que arrostaram com mares desconhecidos.

Bendita sejas, ó Terra, que lutaste,
Nos campos de La Lys, entre estrangeiros,
Com o mesmo valor de tempos idos.


PORTUGAL

Fresco jardim das leves mariposas,
dos cravos e das verdes laranjeiras,
rosmaninho e letras bem cheirosas,
das páscoas e das mestas oliveiras.

Vergel coberto das mais belas rosas,
regado pelas mais frescas ribeiras;
perpétuo Abril de aves gentis, mimosas,
com brilhos de penugens feiticeiras.

Canteiro de boninas e mirtérios;
roseiras e bem me -queres e lírios;
de crisantos e goivos sepulcrais.

Meu Portugal de amor, és um rincão
à beira-mar plantado, ó coração
a pensar e a carpir paixões fatais.


FORA DE PÁTRIA

Longe da Terra, que nos viu nascer;
longe da luz do sol, que nos beijou;
longe da água, que nos baptizou,
pelas rochas das serras a escorrer.

Longe da pátria aldeia, onde a correr
nesses tempos da infância se brincou,
como a ave do céu, em livre voo,
num céu azul de Abril a amanhecer;

longe de tudo aquilo que se ama,
que fala ao coração e que nos chama
e nos acena em gestos de amizade.


LUGARES SAGRADOS

Ó sagrados lugares da minha aldeia,
como dentro de mim, vós me falais!
Vem lá, na serra a branca Lua - Cheia;
reina o silencio e a paz, entre os casais.

Ó que gratas memórias me evocais
lugares da minha aldeia! Em vós passeia
aquele que eu fui um dia, e quantos ais
brotam da minha dor que me alanceia!

Lugares da minha aldeia!... São Trindades;
cá dentro da minha alma, ardem saudades
e a fonte, docemente, rumoreja.

Os meus olhos, então, cheios de mágoa
são poços dolorosos cheios de água
a chorar, chorar, por quem os veja.


SENHORA DA GRAÇA

Ó Senhora da Graça tão bonita,
no cimo da colina a branquejar,
és um farol de esperança, ó Mãe Bendita,
a nossa noite escura a iluminar

Que essa tua bondade - que é infinita
nos não deixe nunca ó Mãe, de nos guiar
nas vagas alterosas da descida
ou já na mansidão da prosa - mor

Ó Senhora da Graça, milagrosa,
esse teu nome, ó Mãe, é sinfonia
que ascende, em nosso peito estranho lume.


ALDEIA NOVA

Por fortes circunstâncias desta vida,
ausentei-me de ti, Aldeia Nova.
Duma grande saudade eu sinto a prova,
em minha alma, pela dor humedecida.

Aldeia Nova ó planta reflorida
de grato odor que sempre se renova.
Velhinha sempre jovem, sempre nova,
virgem louçã de graça e cor garrida.

Aldeia Nova, quem te não conhece,
rainha da verdura e dos encantos,
desde que nasce o sol, até que anoitece?

Da tua alma verde saem cantos
que eu ouço, e intimamente, se enternece
meu coração nadando em mar de prantos.


ALDEIA DAS CEM CASAS

Ó pitoresca aldeia das cem casas,
na recosta da serra agasalhada,
pelos raios de sol tu és pintada
e em teu céu anilado batem asas.

Por escuros pinheirais és povoada,
com rolas a cantar, em céus de brasas,
e à noite vem as tuas casas
esse balão da Lua, prateado

Aldeia das cem casas, donairosa,
de gente do trabalho, canseirosa,
gente simples e de alma para o bem.

Ao romper da manhã logo te vejo,
e com gosto te vejo, e sinto o beijo
que o sol te dá quando desponta, além.


RIO BENFAZEJO

Tâmega doce e benfazejo .
à tua beira como é bom parar!
E como é belo ver-te deslizar
de pedra, em pedra, na canção dum beijo!

Uma horas de paz faz bem passar,
esquecido do mundo e mau desejo
à tua beira, ouvindo o sortilégio
da tua aragem fresca a suspirar.

Ó meu rio da lenda e da beleza,
tu és o sonho bom dum paraíso
que nos beija, com paz e suavidade!

Ao pé de ti de nada mais preciso;
de nada mais: que aqui, sinto a pureza
da vida da primeva humanidade.


A MINHA IGREJA

A minha igreja, a minha igreja é linda.
A minha igreja, a minha igreja é santa.
A minha igreja é sol que se alevanta,
que se alevanta, para a luz infinda.

A minha igreja é moça que se alinda,
é moça que se alinda e nos encanta,
num sorriso de graça tal e tanta.
Como outra, assim, não vi ainda.

A minha igreja, a minha igreja é aquela
que eu vejo, manhã cedo, da janela
que eu vejo, com amor, desde criança.

Na minha igreja espero adormecer
naquela hora extrema de morrer,
cercado pela luz da tua esperança.


RIO, MEU IRMÃO

Ó rio, bom amigo e companheiro,
dos dias tão calmosos do Verão,
ó rio benfazejo, és meu irmão,
que eu amo cum amor bem verdadeiro!

Teu deslizar suave mas ligeiro
escuta-o, com amos, meu coração,
que o lume da poesia é uma paixão,
que nos leva pra lá do mundo inteiro.

Ó rio, bom amigo a murmurar,
numa eterna canseira pra chegar
pra chegar ao seu termo - à sua foz.

Escuta: Como tu, na vida errante,
sou meu irmão, um rio delirante
cansado de gritar, e rouca a voz.


AMARANTE

Amarante - essa terra idealista
de Augusto Casimiro e de Carneiro,
de Pascoaes, o grande saudosista
e génio dum Poeta verdadeiro.

Enorme cone, além, formosa crista,
onde se reza à Mãe, de olhar fagueiro.
Mais acima, o Marão, que o mau avista,
vigia, atento, aos passos do estrangeiro...

Quando as águias do Corso sobrevoaram
este burgo vetusto e de frescor
com bravura, os seus filhos ripostaram.

E às ordens do Silveira, com ardor,
as águias invasoras metralharam,
fiéis à liberdade e ao pátrio amor.


MINHA TERRA PEQUENINA

Eu amo a minha terra pequenina,
onde brinquei pelas graças de Jesus
A minha terra é qual noiva -menina
revestida de flores, de graça e luz.

Adora a minha terra diamantina
coberta pelos céus, em vira, a flux.
Jardim de encanto, e de alma cristalina,
onde a saudade reza a sua cruz.

A minha terra é a pátria da ternura;
do sonho, da alegria e da paixão,
em chama de desvairo e de loucura.

Ó minha Terra: Amor de Perdição
esse poema tecido, em língua pura,
que nos consola e doe, no coração.


POR TI HEI-DE CANTAR

Terra santa do Amor e da saudade,
ó minha amada Terra Portuguesa,
és a ternura, o sonho,; és a beleza;
és, ao cair da tarde, a suavidade.

Ó minha Terra, escrínio da amizade,
que nos embala, em horas de tristeza,
alma de luz da estranha claridade,
que, em certas horas ama a Deus, e reza.

Ó Terra de heroísmo e da Aventura,
por sobre as ondas bravas desse mar
que foi o nosso sonho e sepultura.

Por ti, ó minha Terra, hei-de cantar,
enquanto Deus me desse esta ventura
da minha lira humilde dedicar.


TERRA AMADA

Ó minha Aldeia verde e sossegada,
de edénica paisagem sonhadora,
ao repontar do dia, a bela aurora
põe-te de oiro e de luz toda pintada.

As aves, em gloriosa chilreada,
são um hossana a Pan; e nessa hora,
a minha alma vem toda cá pra fora,
pra te render louvor, ó Terra amada!

Meu doce e pátria minha deslumbrante,
quem te não há-de amar, ardente,
e cantar-te, depois, noite adiante.

Tens, aqui, quem te cante, docemente,
um peito de emoção - puro diamante -
que quer gritar, pra ti, versos que sente!


QUE SEGREDOS?

Casinhas, repousando, entre a paisagem,
- desta nossa paisagem harmoniosa,
ó casinhas sonhando, sois a imagem
da alma portuguesa tão saudosa!

Ó casinhas, sorrindo entre a paisagem
- esta paisagem verde e luminosa
que segredos dizeis à fresca aragem,
que desliza na tarde silenciosa?...

Que segredos dizeis, lindas casinhas
pelos raios da sua caiadinhas
que encanto e que beleza esta visão!

Que segredos dizeis? De amores e sonhos
duma vida feliz - prazeres risonhos
com alegria e paz, no coração.


SE VIERES

Se vieres à minha aldeia, que amo tanto,
e me acolheu, outrora, em pequenino
julgarás deste amor diamantino,
dando razão ao fogo do meu canto.

Que de lembranças!.. (ai, há quanto, quanto!
Minha aldeia sou eu, e eu imagino
que outra não há melhor, de ar tão divino,
do que esta, onda eu medito, choro e canto.

Esta terra sagrada e avarenta,
há quantos anos já não acalenta,
a minha mãe nos braços da Ternura!

Que o teu olhar de mágoa e de tristeza
comungue, um dia, a alma e a beleza
deste rincão ideal de luz tão pura!


SENHORA DO MARÃO

Senhora do Marão - serra gigante,
e monja do mistério e solidão
quem não ouve bater teu coração
ó mãe dum grande génio deslumbrante!

No místico silêncio fecundante
dessa paz religiosa - que é oração,
e sinto a voz da raça e Tradição,
através desse dorso, - vagueante.

E ouço lobos a uivar, na noite escura,
e vejo mil fantasmas de loucura,
horas mortas, medonhas, espectrais!

Tu ardes, ó Marão, em chama ardente
nessa alma genial e transcendente
do Poeta visionário - Pascoaes.


CANTAI

As cantigas, que outrora ouvi cantar
virgens louças da minha linda aldeia
que é delas, que as não ouço ressoar
no vasto céu, que o sol aformoseia?

Que é das noites de sonho e Lua Cheia
o quadro da desfolha a poetizar?
Ó noites de saudade que incendeia.
Nesta minha alma, triste, o recordar!...

Como vós me levais à minha infância,
perdida há tão longe, na distância,
dum dia que não tem amanhecer!...

Ó formosas e ledas raparigas,
cantai, cantai, as límpidas cantigas
que eu quero ao seu embalo adormecer!


SEMPRE O MESMO

É sempre o mesmo, sim. Nunca envelhece.
o que era ontem, é hoje, é sempre assim,
- deslizar a deslizar, sem fim,
no murmurar suave duma prece.

A sua água saudosa cai e desce
- cai e desce, no íntimo de mim
para se infiltrar e humedecer, em fim,
a minha alma que chora e se enternece.

A tua voz ó meu querido e pátrio rio
é irmã da minha voz, aqui, no peito,
gritando, sem cessar, num desvairo!

E as raízes, que, ó rio, vais regando:
- saudades dum passado já desfeito
que a minha alma, em ti silêncio vai rezando.


PARA A DOR

Debruce-me à janela, entristecido,
e vejo da Natura a suavidade
e ouço um eterno canto de saudade
- é o Tâmega descendo, num gemido

E nele me fica preso o meu sentido:
pois não desce. Como ele, a minha idade?
Não chora, como ele, na soledade
o meu ser tão longe, já perdido?

Ó rio do meu ser insatisfeito,
a esbarrondar as margens do meu peito,
donde é que vens? Nascente há do Amor?

Tâmega, meu irmão vamos a par,
tu descendo cantando para o mar
eu subindo chorando para a Dor.


MIRAGEM

E tu vais, na tua caminhada;
e tu há vais, ó rio, meu irmão!
A tua água fecunda é uma canção
que fertiliza a terra - mãe sagrada.

Escuta irmão a voz amargurada
que eu sinto presa, aqui, no coração!
Não vês minha alma, em ti triste solidão,
em mística janela debruçada?

Tu vais de serra, em serra, vale, em vale,
cantando sem sentires o temporal
que te dilata duma à outra margem.

Mas eu (pobre de mim, que anseio calma)
aonde me leva, afinal, esta minha alma?
onde me leva? - Deus - essa Miragem?


HUMILDE CANTO

Porque te quero muito, ó Terra nobre,
eu vou erguer-te, aqui, singelo canto,
mais que singelo humilde, pois que a tanto
não vai a minha musa triste e pobre.

Meu coração de luso é um mar de pranto
mas onde a dor, vogando, se descobre
- dor de pesar de não dizer o quanto
vibra na minha lira que se encobre.

O meu canto não vai além do preito,
de admiração e amor e de respeito
à Terra, onde nasci, em lindo mês.

Este não tem; não tem valor algum:
apenas nele palpita e pulsa um
um puro coração de português.


SERRA MÃE

Gigante serra. Mãe que me criaste
que tocas o azul do firmamento
tu me falas, ó Mãe, ao sentimento,
e em pequenino, ó Mãe, tu me beijaste.

O génio dum Poeta tu crismaste
demiurgo dum alto pensamento
que vai pra além dos céus, pra além do vento
e foste tu, ó Mãe, que o modelaste.

Ó Marão da imponência e de grandeza
tu és das nossas serras a princesa
da beleza, do espanto, e solidão.

Quem uma vez te viu, como eu, agora,
não quer sair jamais, daqui, para fora
ó Mãe, que me sagraste o coração.


MAIS UM ANO...

Mais um ano; e eu vim a São Gonçalo;
mais um ano, e a São Gonçalo eu vim.
Pla graça do Senhor, lá do sem fim.
Ainda vivo estou, pra meu regalo.

Padroeiro da vila; e eu vou cantá-lo.
A sua graça eu sinto, dentro em mim.
Desde menino e moço, eu venho, sim,
à sua festa, só pra venerá-lo.

Romaria de antigas tradições.
Vindo até, me dão recordações...
tantas recordações do que lá vai!...

Este ano inda cá vim, mercê de Deus.
Mas pró ano, sei. Os dias meus
podem fugir-me, qual, nos céus, um ai.


SENHORA DO MONTE

Formoso monte é este, onde eu contemplo
serras além, capelas a alvejar.
A própria natureza é imenso templo,
onde eu, humildemente, vou rezar.

O ovo vem, aqui, com fé e exemplo,
no primeiro de Agosto, a venerar
a Senhora da Graça, e, neste templo
ela é Rainha e Mãe, pra nos guiar

A brisa deste monte é uma reza,
que a Rainha do céu e da pureza
nos manda para a gente a não esquecer.

Ó Senhora do Monte e nossa Mãe
não nos esqueças lá, no céu, também,
pra termos esperança à hora de morrer.


ÁRVORES AMIGAS

Doces sombras das árvores amigas
vós seis, ó arvores, moças prazenteiras
(à beira dos caminhos e carreiras)
que enchem o céu de límpidas cantigas.

À vossa volta, há campos, com espigas
frutos de mil suores e mil canseiras
e estendidas ao sol, em largas eiras,
- sois pão, depois, pra refazer fadigas.

Que bom é repousar, alguns instantes
às vossas sombras tão gratificantes
que se dão generosas, a quem passa.

Louvada sejas, Madre Natureza,
tão rica de abundância e de beleza,
sorrindo para nós, como uma graça.


COMIGO SÓ

Os olhos não se espraiam: só pinhais,
e um céu azul, em brasa, desmaiado,
e nesse azul - espaço ilimitado,
nem uma ave, em voos abismais.

Sereno, o ar: Nem fumo nos casais.
Quase silêncio, neste céu parado.
Nos campos verdes, não se enxerga gado,
nem pinchos de cordeiros joviais.

Nem um murmúrio de água ouvir consigo
e nesta solidão dum dia claro
sinto-me só, e falo a sós comigo.

Falo comigo deste mundo amaro
e pra mim, só pra mim, eu grito e digo:
que um bem-estar perfeito é caso raro.


NÃO ME CANSO

Não me canso de ver esta romagem
da minha aldeia cheia de frescura.
O claro sol subindo lá na altura
enche de luz e cor esta paisagem.

Não me canso de ver esta paisagem,
nem deste sol a sua luz tão pura.
Os olhos meus não cerro à formosura
que grava, na minha alma grata imagem.

Não me canso de ver a luz e a cor
que a Natureza - Mãe, com graça e amor
tão generosa dá aos olhos meus.

Tão rico quadro é uma vos, que anta,
é uma voz que fala e se alevanta
lá pró alto a dizer existe um Deus.


FRESCA MANHÃ

Fresca manhã de branco nevoeiro
e eu bem sentado, sob uma parreira;
sua frescura eu gozo, verdadeira,
que me enche dum bem estar muito fagueiro.

Do sol um raio leve e prazenteiro
cumprimentar-me vem, pela videira,
e eu ficaria, aqui, a vida inteira,
qual um Buda a rufar em seu pandeiro.

Que doçura e que paz neste recanto!
Além, num monte, eu ouço o belo canto
dum melro muito preto e jovial.

Ó Natureza, que me deste o Ser;
ai, como é bom na tua paz viver,
desconhecendo o ódio, o crime e o mal!


LIVRAÇÃO

Ó Livração de graças e encanto
do nosso Portugal és um rincão
cheio de luz, de cor e de atracção
que, desde a minha infância eu amo tanto!

Em horas de tristeza e de quebranto,
em que a mágoa me afoga o coração
eu vou, em pensamento, à Livração
e à Senhora eu ergo este meu canto.

Irei, Senhora, à tua romaria
(mas não irá, ó Mãe, ninguém comigo);
vai só o sol do nosso Portugal.

Meus olhos sentem já o fim do dia,
por isso é que eu vou lá, pobre mendigo
em busca do teu manto maternal.


DOR SEM CRUELDADE

Ó minha aldeia e mãe que eu amo tanto,
nunca me canso, aldeia de te ver!
Tu és o meu enlevo; o meu prazer,
tu és a alma ardente do meu canto.

Aldeia em que vivi, um ledo encanto,
quando era de inocência a meu viver,
quando subia ao céu sem o saber
e já, em mim, gerava, esta meu canto.

Ó minha linda terra ao sol Poente
- a hora vespertina das Trindades
que para Deus eleva a nossa mente,

escuta, ó minha terra, estas saudades,
que é chama arder, dentro da gente,
e nos dá mágoa e dor sem crueldades.


FONTE CRISTALINA

Ó fonte cristalina, que secaste,
que é feito da tua água benfazeja?
A minha sede sempre te deseja
e sente aquele frescor que lhe deixaste.

Ouço-te, ainda, cair tão murmurante
no largo tanque que te recolhia.
Que doce sonho aquele! Era Poesia.
E eu ficava a cismar noite adiante...

Tudo se vai, ó fonte bem - amada.
E no final da senda amargurada,
apenas fica o rastro da quimera.

A tua alma, ó líquida frescura
lá se sumiu, enfim, na terra escura
esse seio que a todos nos espera.


O CARNAVAL EM BELMONTE

Que saudades eu tenho desses tempos,
do Carnaval , aqui, há trinta anos!
Que gozos sem maldade e sem enganos!
Mas tudo foi, quais folhas pelos ventos!

Nesse lugar airoso de Belmonte
era onde se jogava o Carnaval.
E o monte todo ele: - um arraial
de lindas vistas é o Marão de fronte.

Atrás, já, dum macaco esfarrapado
aquele multidão em movimento
não para um minuto de correr

Depois: um funeral muito berrado,
e no fim, era em verso, o testamento




Que doce prazer eu sinto
a hora do entardecer!
O sol uma extrema unção
de luz, a Terra a benzer.

Que beleza, que poesia,
que sossego, que bem estar!
Nisto, a noite em seu mistério
anda já perto a rondar.

Além, de aspecto trigueiro:
a casa do lavrador,
servo devoto da terra
que cava com seu suor.

Mais além entre arvoredos,
como benção de Jesus,
avulta a igreja morena
farol de paz e de luz.

É noite já. Surge a lua.
Nas serras de além do mar;
lá nos pinhais pia o mocho
Avé-Marias a dar.

Aldeia, meu pátrio-ninho,
não há no mundo outra igual.
Tu és a ladeia mais linda
de todas de Portugal.

1937



VILA CAIZ

Vila Caiz pátrio ninho,
tamanho de um coração.
Tu és a jóia mais linda
que gerou minha afeição.

Amemos a nossa Terra,
nosa mãe -Vila Caiz-
pois quem ama a sua mãe
há-de sempre ser feliz.

Vila Caiz, meu jardim,
Beijado pla luz dos céus,
tu és a obra mais bela
saída das mãos de Deus.

Nosa Senhora do Monte,
Nossa Senhora da Graça,
Sê sempre o nosso horizonte
Na alegra ou na desgraça.

Vila Caiz, terra minha,
tua alma é perfumada,
com as bençãos da Rainha
lá no Monte venerada.

Nossa Senhora da Graça
Não esqueças Vila Caiz.
Com o manto da tua graça,
Faz esta terra feliz.


Sem comentários:

Enviar um comentário