terça-feira, 15 de março de 2011

QUADRAS DE AMOR E DESPEITO

Enquanto houver corações,
a bater de maior ideal,
há-de sempre haver canções,
neste céu de Portugal.


Maria chama-se ela,
Maria não sei de quê.
Logo que a vi gostei dela.
Não sei como nem porquê.


Bonita. Feia. Que importa.
Nem só conta a perfeição,
se da alma, aberta a porta,
há só lama e podridão.


Não quero nada contigo,
cortemos já relações:
terei outro peito amigo
de mais puras afeições.


Perdi meus olhos um dia
no mar sem fim desses teus.
Desde, então, fatal Maria,
ando ceguinho, meu Deus!

Beijos são aves que voam,
do coração para a boca;
sinfonias que ressoam,
na alma, deixando-a louca.

Sabem a mel de colmeia,
ou picam mais que as urtigas,
certas palavras que saem
das bocas das raparigas.

Não tentes mais escrever-me,
dura, ingrata, entre as mulheres;
mas se me vires algum dia,
olha pra mim se puderes...



De tanto olhar para ti,
trago os meus olhos cansados:
só tu não cansas os teus,
ó mulher dos meus pecados!

O louco amor que juramos,
com tanto ardor e paixão,
não foi mais do que uma rosa,
que secou durante o Verão.

Pedi-te um beijo; disseste:
- Vê lá se isso tem lugar!...
- Ao menos um descontado
aos muitos que me hás-de dar.

Quatro lábios bem unidos,
num beijo cheio de ardor,
são quatro cravos colhidos
num jardim chamado Amor.



Este amor que te dedica
meu coração de mulher,
é uma pura fonte em bica,
onde tu não vens beber.

Teus lábios cor de cereja,
da tua boca bem feita,
são fruta que se deseja,
numa ânsia insatisfeita.

Menina, tape o decote;
não ande de peito ao léu;
que eu quero, depois da morte,
aberta a porta de céu.

É sombra bem apagada
a tua lembrança, agora.
Mas lembranças dão saudades:
e quem tem saudades chora.



Beijo de lume, eis o tema
do Amor, razão da vida!
Não há mais belo poema
que uma boca a outra unida.

Não preciso de rezar
uma só Ave-Maria,
pois quem passa a vida a amar
passa a rezar noite e dia.

Pelo que tenho visto, vê-se
que tu és costureirinha.
Se a tua agulha viesse
remendar esta alma minha?

O amor que te dedico
não cabe dentro de mim;
nascendo dum nada é rico,
sendo pobre não tem fim.



Coração que atravessou
toda a vida sem amor,
é botão que não passou
de ser botão pra ser flor.

Teu olhar tem a alegria
da leda aurora a nascer;
a tua voz, a poesia
da lira, à tarde, a tanger.

Menina dos olhos negros,
morena como Jesus!
Olhe pra mim, tenha pena;
despregue-me desta cruz.

Coração, lancei-te, à sorte
Qual a que te caberá?
Uma já sabes: a Morte;
a outra, Deus o dirá...



Cravos brancos às janelas
de noite ao luar em flor,
são corações de donzelas
em belos sonhos de amor.

Doces falinhas de amor,
na boca das raparigas,
são como grãos que se perdem
nas messes de loiras espigas.

Azeitona miudinha,
dás a luz para o Senhor;
a azeitona dos teus olhos,
só me dá penas de amor.

Ninguém pense penetrar
ou imaginar, sequer,
os segredos que se escondem,
no peito duma mulher.



Numa bruma de saudade,
naquela tarde de bruma,
só te mandei amizade
que o resto é coisa nenhuma

Maria, teu nome é leve,
mais leve que um fino véu;
tem a brancura da neve,
que cai branquinha do céu.

Rapariga de olhos verdes,
de olhos verdes cor do mar,
fecha os olhos que me perdes,
fecha os olhos devagar.

A lembrança do passado,
traz um velho à mocidade.
E deixa-o enamorado
dum eterno amor-saudade.



A musa dos versos meus
eu tinha-a já quase morta,
mas em vendo os olhos teus
a musa bateu-me à porta.

Tem nome é lindo, Maria.
Maria é mãe de Jesus;
teu nome diz alegria,
esperança, saudade e cruz.

Virei a última folha
dum livro que andava a ler.
O livro diz muita coisa,
mas nada diz da mulher.

Menina que andas de noite
com moços à tua beira:
pode ser sejas honesta,
pode ser...mas não me cheira.



Pra que mandaste a um francês
cartas de amor, Mariana?
Antes fosse a um português;
um português não engana.

Todo o meu canto perfuma
a graça da tua graça.
Tens o mistério da bruma
que tenta a alma da raça.

As palavras nunca dizem,
nunca conseguem dizer,
metade que os olhos dizem,
que os olhos dizem sem qurer.

A lembrança do passado,
traz um velho à mocidade.
E deixa-o enamorado
dum eterno amor saudade.



Quando vivo amor se sente
por alguém, no coração,
mil receios tem a gente
de perder essa ilusão.

Beijos de amor não darei,
dure eu anos, mais de cem.
Com amor só beijarei
as faces de minha mãe.

Esse sonho que tivemos
e um dia nos encantou,
bem depressa o desfizemos
pois um capricho os matou.

Pra saber se alguém nos ama,
nem é preciso falar;
basta apenas ver a chama
que alguém nos dá num olhar.



O teu nome diz tristeza;
diz paixão, diz piedade;
diz amor e diz beleza,
diz mistério e diz saudade.

Teu coração não tem pena
desta pena que me mata?
Se não tem, não vale a pena
ter pena por uma ingrata.

Saudade: lábios cerrados
a falas de amor que deram;
mil desejos apagados,
risonhos sonhos que arderam.

São duas fontes teus olhos
a verter fios de luz,
que fazem flores dos abrolhos,
deste mar da minha cruz.



Este negócio de amor
não é lá bom de entender.
Quantas vezes ama a gente
com vontade de morrer!

Surge, além, a Lua Cheia.
Ó moças, vamos sonhar!
Quem não sonha não tem alma;
sem alma quem pode amar?

Amor é fogo divino
que nos dá prazer e dor;
amor é jóia tão rara,
que eu nem sei se existe o amor.

Amor em quem é poeta,
no princípio é violento;
no meio pura amizade;
e no fim... esquecimento.



Esses teu olhos tão belos,
são belos, mas são ateus;
são ateus, porque não crêem
no santo amor destes meus.

Tua figura gentil,
teus mimos de violeta,
tua frescura de Abril,
fizeram de mim poeta.

Tu dizes-me sempre assim:
- Meu amor é infinito.
Será será mas ,enfim,
cá pra mim não acredito.

Amor não ouve a razão,
nem atende o pensamento;
nele só manda o coração,
em chamas de sentimento.



Eu penso em ti mal acordo,
e todo o dia, meu bem,
sempre de ti me recordo
e até no sonos também.

Que manhã de aleluia
não brilha nos olhos teus!
Deus queira que esta alegria
não cause prantos, meu Deus.

Sofreu Jesus mil tormentos
das mãos cruéis dos Judeus.
Mas tu, em certos momentos,
és pior, louvado Deus!

Porque choras, rapariga?
Não vale a pena chorar;
esta vida é uma cantiga:
anda daí, vem dançar.



Que gostas muito de mim,
e que sem mim não és nada.
Põe-te a bulir, Querubim,
isso é conversa fiada.

A tua mãe não me grama;
não me quer pra sua nora:
vai procurar outra cama,
deixa-me em paz. Vai-te embora.

O nosso amor acabou,
que o nosso amor foi asneira.
-Se tudo se evaporou
não penses que vou pra freira.

Não voes, meu pensamento,
não te dês a tal ventura;
é melhor o esquecimento
que um amor de pouca dura.



Meu Jesus da Galileia,
mártir de amor, bom Jesus,
tirai da minha alma a ideia
deste amor que é minha cruz.

Que eu não passe à tua porta!
Vê lá se isso tem lugar?
Pois passo. E pouco me importa,
que o caminho é para andar.

Meu lírio de formosura,
olha que o mundo é uma peste.
Não deixes que essa candura
ventos impuros ta creste.

Minha flor, vem à janela,
quando a lua despontar;
quero dizer-te um segredo,
à luz branca do luar.



Menina, não te acredites
no que o Manel te disser;
é rapaz muito sabido:
vai e vem sempre que quer.

A rosa depois de seca,
desfolha-se e cai ao chão;
tudo na vida começa,
só teu amor é que não.

Aquela mó rala o trigo,
o trigo, o milho, o centeio;
quem há-de ralar a mágoa,
que eu trago dentro do seio?

Eu comprei uma laranja
que era seca e pequenina;
não tinha gosto nem sumo:
como tu, minha menina.



O amor passou por mim,
um dia; mas não parou.
Disse adeus até um dia...
disse adeus e não voltou.

Um amor que se repete,
jamais volta a ser amor;
é como o sol de Janeiro,
que não chega a dar calor.

Quando tu me deste o sim,
conforme à minha maneira,
na tasca do Alecrim,
tomei uma borracheira.

Os sonhos que nós tecemos,
num sorrir de felicidade,
morrem eles e nós morremos...
só nos não morre a saudade.



Ó lua que vais na altura,
com os teus raios de prata,
tira-me da noite escura
desta paixão que me mata.

Palavra pequena: amor;
tem quatro letras somente.
Mas quantos dramas de dor
por ela viveu a gente!

O meu amor é um verso,
que, meu bem, não sabes ler.
É maior que o universo,
nem morre quando eu morrer.

Quem espera desespera:
mas quem espera sempre alcança;
e custa menos a espera
quanto maior for a esperança.



Quando estavas à janela
nessas noites de luar,
pra mim, a lua mais bela
era a luz do teu olhar.

Aquele sorriso de Arliza
(recordo-o bem, como ele era!)
tinha a doçura da brisa
nas tardes de Primavera.

Essa tua doce fala,
de timbre tão cristalino,
no meu peito, não se cala
e tem um sabor divino.

Os olhos do meu amor
são duas bolinhas de oiro;
meu encanto e minha dor





As orvalhadas tão finas

das manhãs de S. João,
são como bênçãos divinas
a benzer uma ilusão.

Andei contigo na rusga
Nessa noite, embranquecida;
Hoje é um filho, nos braços,
Cá vou na rusga da Vida.

Um trevo de quatro folhas
achei, há dias, achei;
Porém, amor verdadeiro,
Não sei se existe, não sei.

Fui beber àquela fonte
Que generosa, se deu;
Ficou pura, como antes,
Meu beijo não a perdeu.

A noite de S. João
É de estúrdia e verdasco,
em que a mulher é foguete
e em que o homem é morrasco

Quem corta o trevo da sorte
ninguém o pode prever;
uns tem-no, à hora da morte,
outros morrem, sem o ter.

Quatro sílabas bem unidas,
num longo beijo de amor,
são quatro cravos colhidos
num vasto jardim de amor.

Andam cantigas nos espaços
arde na rua, a fogueira;
eu e tu, braços nos braços,
bailamos a noite inteira

Se eu for contigo na rusga,
meus olhos perdem-se logo.
vou-me fazer já ceguinho
para me livrar desse fogo.

Minha flor, és um enlevo.
Tens um encanto, uma graça!
Que as quatro folhas do trevo,
só boa sorte te faça.

Andei contigo na roda,
mas depois de andar, assim,
procurei-me a noite toda,
mas jamais soube de mim.

Se S. João é travesso
é culpa das raparigas;
Pois mal o dia desponta
enchem o céu de cantigas.

Pedi-te um beijo de amor.
Que não – disseste a sorrir.
Pois olha que a fonte dá-se
sem ser preciso pedir.

Saudade – lábios cerrados
a falas de amor que deram;
Mil desejos apagados
cinzas de beijos que arderam.

Casai-me, ó santo casai-me!
Casai-me que bem podeis.
É triste dormir sozinha:
Dai-me um de tantos Manéis.

Ó balão que vais subindo
no azul do firmamento
as mágoas, que eu vou curtindo,
leva-as e … deita-as ao vento.

Tive sede: fui à fonte
que jorrava da parede;
Estavas lá, vi os teus olhos;
Saí de lá com mais sede.

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