É um café de muito movimento,
sobretudo nos dias de Domingo.
Eu entro lá e mando vir um pingo,
que todo me regala cá por dentro.
As mesas estão cheias de fregueses.
Falam de tudo, pois, mas mais de bola.
Outros jogam a sueca que os consola
e eu aprecio o jogo, algumas vezes.
A Miquinhas é muito atenciosa
e, com seu ar de muita simpatia,
atende este ou aquele, com alegria.
E lá lhes leva um «cheiro» ou uma gasosa.
Que pitoresco o que os meus olhos vêm!
Um campo com ramadas verdejando
E pinheiros ao fundo sombreando.
E várias casas por aqui e além.
Num plano mais abaixo escuras giestas,
ao vento que desliza a baloiçar;
e à fresca sombra há pares a namorar.
E cheiro a rosmaninho e ervas lestras.
Ao alto, entre o pinhal, uma pedreira
E pouco adiante quase mão com mão,
Depara-se uma casa em construção
Que irá rezar à Virgem Padroeira.
A suave colina onde eu demoro
parece, na verdade, uma cascata,
onde a luz gloriosa se refracta
à luz do sol, com os seus raios de ouro.
Sobre a cascata voam mansas pombas,
com suas asas brancas de cetim.
A colina - cascata é um jardim
de claras fontes e de frescas sombras.
Do lado do Nascente, há um pinhal,
onde cantam rolinhas meiguiceiras.
Vê-se, à frente, um jardim das oliveiras
posto cá, da Judeia, em Portugal.
O lugar do Cruzeiro é, na verdade,
um lugar concorrido e atraente.
Durante todo o dia passa gente,
dando-lhe vida, nem uma cidade.
As suas casas têm certa importância,
mas delas todas a de mais valor:
é a de Cima de Vila, bela estância,
na qual sonhou, há anos, um pintor.
E no seu largo: uma mercearia,
que tem de tudo, como na botica:
Painço pra canários, fava rica,
salsichas, salpicões e peixaria.
Manhã ainda sem sol, manhã cedinho,
dirigi-me pró campo, que frescura!
Gotinhas de nevoeiro, que finura!
Na minha cara caem de mansinho.
Envolto nesta paz que me sossega,
de regador na mão e devagar,
carreiro por carreiro sem parar,
das cebolinhas eu procedo à rega.
A água está num tanque recolhida,
muito fresquinha e própria para o banho.
Dentro dela, porém, eu não me apanho
pois quer beber a terra ressequida.
À sombra saborosa dum pinhal
a ler versos de amor, feliz, me pus.
Filtrada pelos pinheiros vinha a luz
deste dia de estio excepcional.
E lá no céu azul nem uma ave
em seu voar suave e gracioso:
Nem duma fonte o murmurar saudoso.
Desliza, apenas, uma brisa suave.
Os milheirais torcidos plo calor
vejo-os, além, com infinita pena.
Mas chorá-los porquê? Não vale a pena:
no mundo todos nós temos a dor.
Um renque de roseiras, reflorido;
Uma casa, depois, caiada a branco;
passa ao lado o caminho largo e franco,
onde ronca o motor reaquecido.
À minha frente um automóvel desce,
pelo caminho que passa no Belmonte.
Dali se abarca e vê largo horizonte
o qual visto uma vez jamais esquece.
Dos lados do Nascente ergue-se a serra
da Senhora da Graça de Mondim:
esse pico a furar o céu sem fim,
grandeza sem rival da nossa terra.
No átrio da minha casa a fazer de eira,
tenho a secar as minhas ervilhinhas
que eu, com desvelo olhei (pois se eram minhas!).
E à tarde irei malhá-las, com canseira.
Semeei-as, no campo, com amor;
Reguei-as, já nascidas, com carinho:
E quando as cozinhar, com arrozinho,
que rico prato ele é, que bom sabor!
E os grãos delas, então, na caçarola,
ensopadas com frango e belo trigo!...
Eis um prato excelente; um apresigo
que melhor nos adita e nos consola.
Eu vejo lá no fundo Aldeia Nova.
À direita fica a Lina Tecedeira.
Fica, em baixo, o Toninho da Porqueira:
a casa onde revivo a uma luz nova.
E mais em baixo, a casa de Ametade,
casa antiga e de aspecto muito nobre.
Esteve há anos, ali, António Nobre:
Um mago a vislumbrar a Eternidade.
De campos e de montes envolvida.
outra casa se vê, na qual, outrora
Viveu um tal Dom Sapo e vive agora
ainda numa lenda bem tecida.
Aguarelas
Vinde, pintores, pintar este quadro
E pintá-lo com tintas verdadeiras.
Em baixo são humildes oliveiras
Cujo óleo ao Altar é consagrado.
O vetusto carvalho aqui não falta,
Com sua sombra tão deliciosa;
Pinheiros de resina bem cheirosa,
E eucaliptos, na parte atrás mais alta.
E noutro plano, campos com verduras
E ramadas cobertas de videiras;
Flores algumas, que são alvissareiras,
E núncias de alegrias e venturas.
II
A festa da Senhora é lá no cume
Da montanha coberta de arvoredos,
Onde cantam rolinhas seus segredos,
Segredinhos de amor talvez com lume.
No primeiro Domingo e mês de Agosto
É que esta festa antiga se celebra.
Na sua pompa não se nota quebra
Desde manhã cedinho até sol-posto.
Romaria que é nossa sem rival,
Foguetes a estoirar e procissões;
E bombos a rufar, mil atracções,
De cor e luz cá neste arraial.
Gigantones que dançam pela rua
E com ele moços e moças a bailar;
Ao compasso das bandas é marchar.
E lá no céu, sem fim, ciranda a lua.
E nas sombrinhas frescas das latadas
O povo saboreia o almeirinho.
Depois, umas sonecas regaladas;
E sempre perto o garrafão do vinho.
III
No cimo: o verde-escuro dos pinhais;
Mais ao cimo: casinhas branquejando
À luz do sol que as vai iluminando
C ´o fogo destes dias estivais.
Num outro plano: campos amarelos,
Onde o centeio, há dias, foi ceifado;
E que agora se vê enroleirado
Para depois dar farinhas e farelos.
Entre arbustos, de pedra em pedra, corre,
Num fundo vale sombrio, com recato,
Águas frescas de um límpido regato
Que em claro rio logo adiante morre.
No topo da colina uma casinha,
Que é moradia rindo prazenteira.
Esta alegre casinha é Oliveira
Viveu nela e morreu minha madrinha.
IV
Cheguei, agora, ao Alto do Ladário,
Que deleitoso Monte do Tabor!
Em baixo passa o rio com langor,
Cuja paisagem é de aspecto vário.
Larga extensão de milhos se descobre
Ao sol jorrante, límpido, pagão,
O qual, sem distinção a todos cobre
Fazendo rica a aldeia de Gatão.
A meio, um cemitério pequenino:
A seu lado a igreja-monumento;
No campo santo dorme um pensamento
Que foi em vida um génio peregrino.
V
Airosa casa cujo nome é vale
Nela habita meu primo Zé Queiroz.
Esta casa pra mim tem uma voz
que me chora cá dentro por meu mal.
Um pouco acima dela é Ribaçais,
um largo com um ar muito agradável.
Tem casas de um aspecto respeitável;
Quem ali passa não esquece mais.
Uma rua e no fim vê-se uma ponte;
Outra rua e no topo fica a Igreja,
Muito altaneira pra que a gente a veja,
E uma capela à Virgem lá no monte.
VI
Manhãs de Julho ardentes de Junqueiro
Sentimo-las no corpo com rigor;
Neste mês é o império do calor,
Ardendo, lá no céu, como um tocheiro.
A tarde é quente, quente qual um forno,
Numa grande e intensa labareda;
Nesta verdura fina como seda,
Nem leve viração se sente em torno.
A terra lá no fundo é uma prece
Erguida para Deus pedindo calma,
Para este calor que aflige a alma
E nos fustiga a carne e amolece.
Vinde, pintores, pintar este quadro
E pintá-lo com tintas verdadeiras.
Em baixo são humildes oliveiras
Cujo óleo ao Altar é consagrado.
O vetusto carvalho aqui não falta,
Com sua sombra tão deliciosa;
Pinheiros de resina bem cheirosa,
E eucaliptos, na parte atrás mais alta.
E noutro plano, campos com verduras
E ramadas cobertas de videiras;
Flores algumas, que são alvissareiras,
E núncias de alegrias e venturas.
II
A festa da Senhora é lá no cume
Da montanha coberta de arvoredos,
Onde cantam rolinhas seus segredos,
Segredinhos de amor talvez com lume.
No primeiro Domingo e mês de Agosto
É que esta festa antiga se celebra.
Na sua pompa não se nota quebra
Desde manhã cedinho até sol-posto.
Romaria que é nossa sem rival,
Foguetes a estoirar e procissões;
E bombos a rufar, mil atracções,
De cor e luz cá neste arraial.
Gigantones que dançam pela rua
E com ele moços e moças a bailar;
Ao compasso das bandas é marchar.
E lá no céu, sem fim, ciranda a lua.
E nas sombrinhas frescas das latadas
O povo saboreia o almeirinho.
Depois, umas sonecas regaladas;
E sempre perto o garrafão do vinho.
III
No cimo: o verde-escuro dos pinhais;
Mais ao cimo: casinhas branquejando
À luz do sol que as vai iluminando
C ´o fogo destes dias estivais.
Num outro plano: campos amarelos,
Onde o centeio, há dias, foi ceifado;
E que agora se vê enroleirado
Para depois dar farinhas e farelos.
Entre arbustos, de pedra em pedra, corre,
Num fundo vale sombrio, com recato,
Águas frescas de um límpido regato
Que em claro rio logo adiante morre.
No topo da colina uma casinha,
Que é moradia rindo prazenteira.
Esta alegre casinha é Oliveira
Viveu nela e morreu minha madrinha.
IV
Cheguei, agora, ao Alto do Ladário,
Que deleitoso Monte do Tabor!
Em baixo passa o rio com langor,
Cuja paisagem é de aspecto vário.
Larga extensão de milhos se descobre
Ao sol jorrante, límpido, pagão,
O qual, sem distinção a todos cobre
Fazendo rica a aldeia de Gatão.
A meio, um cemitério pequenino:
A seu lado a igreja-monumento;
No campo santo dorme um pensamento
Que foi em vida um génio peregrino.
V
Airosa casa cujo nome é vale
Nela habita meu primo Zé Queiroz.
Esta casa pra mim tem uma voz
que me chora cá dentro por meu mal.
Um pouco acima dela é Ribaçais,
um largo com um ar muito agradável.
Tem casas de um aspecto respeitável;
Quem ali passa não esquece mais.
Uma rua e no fim vê-se uma ponte;
Outra rua e no topo fica a Igreja,
Muito altaneira pra que a gente a veja,
E uma capela à Virgem lá no monte.
VI
Manhãs de Julho ardentes de Junqueiro
Sentimo-las no corpo com rigor;
Neste mês é o império do calor,
Ardendo, lá no céu, como um tocheiro.
A tarde é quente, quente qual um forno,
Numa grande e intensa labareda;
Nesta verdura fina como seda,
Nem leve viração se sente em torno.
A terra lá no fundo é uma prece
Erguida para Deus pedindo calma,
Para este calor que aflige a alma
E nos fustiga a carne e amolece.
Sem comentários:
Enviar um comentário