O POVORELLO
Tinha na mundo uma existência feliz:
era rico, era nobre e era amado.
Sorria-lhe um porvir atapetado
do mais formoso e esplêndido matiz.
Renunciou (foi Deus que assim o quis).
E o homem que era nobre e venerado
baixou de tanta luz -qual sol doirado-
à pobreza e humildade -e era feliz.
Trocou ricos vestidos que trazia
por pobre vestimenta e nesse dia
descia nele à terra o bom Jesus.
Ensinou com brandura o verbo Amar.
E a paixão de Jesus quis comungar
numa lição de paz , de amor e luz.
1937
NÃO É DE CARNE
Não é de carne a minha namorada
que eu trago bem juntinha ao coração.
A sua voz é pura e imaculada
e fala-me baixinho ao coração.
Não é de crane a minha namorada,
que se de carne fosse, o coração
não sentiria a chama consagrada
em sonho, para Deus, numa ascenção.
A minha namorada...ao fim da tarde,
quando o sol é lágrima que arde,
é que eu a ouço e vejo em mim falar...
A minha namorada é lá do céu,
mas anda em mim perdida, desde que eu
perdi a Luz que agora ando a buscar.
Penafiel 1946
EVA
A terra foi outrora massa ingente
onde apenas reinava a escuridão;
mas sendo Deus o Rei da Criação
quis transformá-la num jardim virente.
Mas no seu querer divino omnipotente
deseja ir mais alem na sua acção.
E desce então do céu: por sua mão
o Homem modelou do barro humente.
Adão, porém, sentia-se tão só
que o seu modelador tem pena e dó
por quem fez luz da escuridão primeva.
Mergulha Adão num sono sossegado.
E quando acorda, Adão vê a seu lado,
sorrindo, tentadora, a sua Eva.
1939
VERBO SER E VERBO AMAR
Reinava o caos, mas Deus pré-existia .
Que Deus sempre existiu se não, não era.
Estava lá na Eterna Primavera,
cercado de mil coros de harmonia.
Porém, quis Deus trazer aqui o Dia
do seu Reino Celeste onde Ele impera.
E assim do caos primevo se fizera
a peça universal com grão mestria.
Mas vendo Deus que a obra era imperfeita,
entra a sentir a alma insatisfeita
E então de barro o homem vai formar.
Porém, o Homem peca. E o Criador
para salvar a Obra, e por Amor,
Passou do Verbo Ser ao verbo Amar.
1939
NO CALVÁRIO
Como o sol era triste naquele dia
Como a brisa fagueira soluçava!
Como a água a correr de dor chorava!
Como o canto dos céus esmorecia!
E como a imensidão do mar gemia
E como a leda flor, triste, murchava!
E como a Terra inteira se enlutava!
E um profundo abalo a contorcia!
Tudo, tudo, afinal, compartilhava
do Drama de Jesus que, por amor,
numa cruz o seu sangue derramava.
Só o Homem, por quem pena tal Dor,
não sente, no seu peito, a pura chama
das cinco chagas vivas do Senhor.
1939
JESUS CRISTO
Lá nas Terras sagradas da Judeia,
nasceu um dia um grande Sonhador,
que dava com ternura paz e amor
a todo o coração que aflito anseia.
O manso nazareno foi a ideia
que trouxe a graça ao mundo e oo pecador;
que transformou na alma a funda dor
em esperança divinal, de graça cheia.
E num profundo gesto de humildade
ditou ao mundo a lei da caridade
que dá a todos nós conforto e luz.
Finalmente, no cimo do Calvário,
pregado numa Cruz sem um sudário,
morreu, p'ra nos remir, o bom Jesus.
1939
VIRGEM SANTA
Perfume salutar que suaviza
e que consola o nosso coração.
Estrela Santa que somente visa
encher noss´alma de consolação.
O seu formoso nome simboliza
ventura, paz , riqueza e compaixão;
seu carinho de mãe revitaliza
a alma que caiu na lassidão.
É Maria um amor que Deus criou
para alentar a triste humanidade
na senda da virtude e do dever.
E o Filho seu, que por amor penou,
Rainha a investiu da Caridade
exornando-a de graças e poder.
1939
A MINHA HORA
A pouco e pouco vou-me anoitecendo
como a chama da vela que alumia.
Sou cera a derreter, sou agonia
como a vela que lenta vai morrendo.
Eu sinto bem que vou entardecendo;
no horizonte além põe-se-me o dia.
Morre a luz, morre a cor, morre a alegria.
E a noite, a grande Noite, vem descendo.
Que lembranças sem fim da mocidade!
Como dentro de mim um mundo chora...
mas é um choro, em vão!...ai que saudade.
Eu já não sou quem fui. Não sou. E agora
só me resta esperar a Eternidade.
E Deus comigo seja nessa hora.
1970
SENHORA DA GRAÇA
Oh Senhora da Graça, tão serena
nesse altar do teu monte és um farol
mais brilhante, mais puro do que o sol
a apontar-nos o céu- mansão amena.
No reduto da vida tão pequena,
tu és, Celeste Mãe, doce crisol
que nos consola e beija, neste mole
e pútrido viver que nos gangrena.
Que a tua benção desça lá do monte
e que venha poisar na minha fronte
para me ajudar no mundo corrompido.
E que à hora da morte que há-de vir
na luz desse farol eu possa ir
ao Reino de Além Campa Prometido.
29 de Junho 1982
PARA ALÉM DAS ESTRELAS
Para além das serras e dos ventos,
para além das procelas a rugir,
e para além das águas a fremir,
para lá dos mais belos momumentos;
e para além dos geniais inventos
e para além da gota a refulgir-
síntese de sol para nós a rir-
que enche a alma de deslumbramentos;
Além da luz e cor em sinfonia
E de tudo o que sabe a astronomia,
ou dum sinal do céu aterrador;
além das flores dos campos tão singelas,
além das finas artes e mais belas,
Em tudo vejo a Mão do Criador.
7 de Abril 1984
DIS CINZENTOS
Dias cinzentos...que melancolia.
Que densas nuvens, tristes lá nos céus;
horizontes cerrados. Negros véus
tolhendo o riso à Deusa da Alegria.
Essa Deusa gentil e sedutora
que banha de saudade o coração.
Quando virás, com teu rosto loução
e braçadas de flores , campos em fora?
Ó vem, oh Primavera, e sem demora,
com tua doce luz alentadora
que nos desperta o gosto de viver.
Primavera da graça e da frescura,
do júbilo pagão e da pintura,
basta de baça luz que é de morrer.
1 de Abril 1977
BENDITO SEJAS, SENHOR!
Bendito sejas, Semhor,
pelas lágrimas que choro;
pela luz do sol que é ouro;
pla mágoa do sol poente,;
pla saudosa luz da lua
que no céu azul flutua,
cercado de imensas estrelas
brilhantes, puras e belas.
Bendito sejas, Senhor,
pla meiga aurora a romper;
plo mimoso florescer
das plantas, com seu frescor;
pla oliveira triste e mansa
que , com saudades, descansa
nos montes e nas campinas,
e plos jardins com boninas.
Bendito sejas, Senhor,
pla borboleta inconstante;
pla fontinha murmurante
brotando da rocha dura
tão frequinha clara e pura.
Bendito sejas, Senhor,
plas lindas tardes de Verão,
quando o sino, mansamente,
nos alerta o coração,
lá pra Deus omnipotente.
Bendito sejas, Senhor,
por tudo quanto criaste;
pelo bem que conquistaste
pra nós -pobre humanidade-,
num louco gesto de amor.
Bendito sejas, Senhor,
pelos mestos pinheirais,
onde nas tardes de estio
as rolinhas gemem ais;
e plos rios a sossegados,
correndo suavemente
por entre campos lavrados.
Bendito sejas, Senhor,
pla voz do Santo Evangelho,
que é são e forte conselho
pra alma do pecador.
Glória a Ti, Senhor , Senhor!
Glória a Ti, hossana, glória!
Deus dos mundos, Deus da vida,
Deus do Amor e do perdão.
Dá-nos, Deus, certa a vitória,
quando o nosso coração
em nosso peito parar,
de junto a Ti ir gozar
a Suprema Felicidade,
lá na Celeste Mansão:
O Reino da Eternidade,
Reino de Paz e de Amor.
Bendito sejas, Senhor!
1938
LUZ
Ó Luz de Deus, banhando a humanidade,
Com fome de Ideal de que padece,
Tu és ó luz, fonte de Caridade
Vivificando a flor que desfalece.
Luz : olhar de mãe que se estremece;
por quem se dá o bem da felicidade;
sonho de amor e santo que se tece
no tear do coração com ansiedade.
Farol que aponta, ao longe, um porto amigo,
Quando o mar ameaça um grande perigo
Com ondas rugidoras em cachão.
Mas ai, quantos na vida a quem não cabe
Essa Luz, dom de Deus, santa e suave
Banhando e consolando o coração!
1937
LUZ
Ó Luz de Deus, banhando a humanidade,
Com fome de Ideal de que padece,
Tu és ó luz, fonte de Caridade
Vivificando a flor que desfalece.
Luz : olhar de mãe que se estremece;
por quem se dá o bem da felicidade;
sonho de amor e santo que se tece
no tear do coração com ansiedade.
Farol que aponta, ao longe, um porto amigo,
Quando o mar ameaça um grande perigo
Com ondas rugidoras em cachão.
Mas ai, quantos na vida a quem não cabe
Essa Luz, dom de Deus, santa e suave
Banhando e consolando o coração!
1937
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