segunda-feira, 14 de março de 2011

QUADRAS DE SAUDADE

A saudade é uma mulher
que a toda a hora nos fala;
e ouço-a rindo ou chorando
neste sonho que me embala.

Canção da morte e da vida
do bem e da infelicidade,
que tem que sejas perdida
se nos deixas a saudade?

Cai o sol pra lá dos montes
são horas já das Trindades.
Baixinho rezam as fontes
ardem, no peito, saudades.

Saudades todos as têm,
segredos de estranha voz.
Graças que vão para Deus
rezadas dentro de nós.

Dizer adeus é pungente
como as coisas que o são.
Pode o rosto estar contente
mas a alma essa é que não.

Só quando a morte puser
meus olhos na escuridão,
morrerão estas saudades
que eu trago no coração.

Ter saudade é ter esperança;
ter esperança é ter amor;
ter amor é ser beijado
pelas cinco chagas da Dor.

Ó Senhora da saudade
quem te não tem como santa?
Nesta Terra de poetas,
é Portugal quem te canta.

Trago um moinho calado
nos abismos do meu ser
é o moinho da saudade
que não cansa de moer.

A minha noiva é de longe
nasceu lá na Imensidade
E por ela eu me fiz monge
a minha noiva é a...saudade.

O poeta é rouxinol
que não cessa de cantar.
Enquanto há luz canta o sol
à noite canta o luar.

Inverno é frio e negrume
Primavera é suavidade
O verão, calor e lume
O Outono, esse é saudade.

A saudade é um longo ai
que lá do Passado vem.
È uma lágrima que cai
nos olhos tristes de alguém.

Saudade é chama sagrada
que lá de longe nos vem;
depois da vida passada,
que saudade se não têm!

Oliveiras pelos montes:
orações à imensidade;
pertinho gemem as fontes
ladainhas de saudade.

Nunca digas a ninguém
triste adeus. Toma atenção,
que saudades todos têm
a chorar no coração.

Coimbra linda cidade
e princesa do Mondego
tua alma canta saudade,
amor, o sonho, o segredo.

Lento o lume vai ardendo
na negra pedra do lar
e minha alma vai tecendo
sonhos da cor do luar.

O lume é voz que me embala
e acorda a recordação
doce canção que me embala
chorando em meu coração.

Ao ver fogueiras ardendo
fico, por dentro, a chorar
pranto, que só eu entendo...
saudades de um velho lar.

Flores da minha mocidade
um vento as desfolhou;
delas só tenho a saudade
que dentro de mim ficou.

Oh Senhora da Saúde,
viradinha para o mar!
Ouço ao longe um alaúde
cujo som me faz chorar.

Oh meu sonho evaporado
que eu revivo com ardor!
Que é desse ser adorado
que foi todo o meu amor?

Saudades da minha infância,
flor para mim tão dilecta!
Lume puseste em meu peito,
fizeste de mim poeta.

A saudade que em mim fala
e põe minha alma a cismar
é como ao cair da tarde
uma gota de luar.

Eu ouço a voz da saudade
baixinho dentro de mim
a dizer-me o que já fui
e não volto a ser assim.

Eu soltei as pombas todas
do pombal do coração
lá foram, por lá ficaram
que pombal de solidão.

O sol é oiro moído
a cair na natureza
é um beijo enternecido
de saudade e de tristeza
saudades são roxos versos,
duma expressão magoada,
pedaços de alma dispersos
no fundo abismo do nada.

Oh saudosa luz de Outono,
a cair devagarinho!
Beija-me neste abandono
em que vivo assim sozinho.

Morre o sol lá no poente
e assim se foi mais um dia.
Morre outro dentro da gente
numa saudosa agonia.

Toca o sino lá na ermida,
à noitinha lentamente;
eis a hora das Trindades
saudades dentro da gente.

Saudade, bênção caída
do céu com suave jeito
saudade, prece sentida
rezada no nosso peito.

Há duas harpas no peito,
constantemente a vibrar.
Uma -a saudade que chora
Outra -uma esperança a cantar.

Todo o coração cansado
de viver e de sonhar
lança os olhos ao passado
e começa a recordar.

Noitinha, casais a arder
morre o Rei da Imensidade.
Silêncio...um sino a tanger
no peito, tange a saudade

Saudades são pedras finas
dispersas pela vida fora;
com elas vou levantando
os meus castelos de outrora.

Não sei que magia tem
esta palavra saudade:
tanto nos fala ao presente
como grita: eternidade

Esta palavra Saudade
não sei que magia tem:
tanto nos diz do Passado
como nos fala do Além.

A saudade em tudo anda,
por toda a parte vagueia,
quer de dia à luz do sol,
quer de noite em Lua Cheia.

Definição de saudade
quem há que apossa dar?
Um simples ai que se solta
é uma saudade a voar.

Lembranças de coisas mortas
são cravos desabrochando
nesta minha alma de sombras
as sombras iluminando.

Como contas dum rosário
passam horas uma a uma
e nós por triste fadário
não vivemos em nenhuma.

Chegada - diz alegria.
A partida -diz saudade
O regresso -diz esperança
Nunca mais, eternidade

Falou-me assim a saudade,
falou-me assim certa vez:
quem mais no mundo me sente
é o coração português.

Uma gota pequenina
pela face a deslizar,
pode ser uma saudade
grande, imensa, mais que o mar.

Esta emoção que me invade
não é pena não é lume.
É um pôr-do-sol tão suave
que, em saudade, se resume.

É noite. O sino da aldeia
bate as três Ave-Marias.
Lá nos céus é lua cheia;
nas almas: melancolias

depois que na Palestina
o Senhor subiu aos céus
numa névoa cristalina
anda a saudade de Deus.

Penafiel!...Que lembranças
o teu nome me sugere
enleios, sonhos, esperanças
no amor de uma mulher

Ó Festas da Livração
Como agora me lembrais
essas festas tão alegres
não voltam, não voltam mais.

Minha aldeia, minha aldeia
meu doce berço natal.
Em noites de Lua cheia
não há outra em Portugal.

O que trago nas lembranças
é o tempo que já passou:
Estou no fim. Não tenho esperanças;
só no Deus que me criou.

Desde o meu conhecimento
- Pós a idade de Marfim -
em ânsias, continuamente,
ando à procura de mim.

O tempo tudo nos mata.
Tudo mata e mortifica.
Apenas nos deixa, grata,
uma saudade que fica.

Lindas moças vão passando
no tempo que eu já passei.
Mas elas passam sonhando
aquilo que eu já sonhei.

Tenho uma noiva que é chama
embora velha , é verdade
dorme comigo na cama
mas não tem corpo é saudade.

Saudades, saudades minhas
de belas coisas passadas
vêm a mim quais andorinhas
nos beirais agasalhadas.

Ai que saudades eu tenho
no meu leito agasalhado
do pingue -pingue de outrora
nas telhas do meu telhado.

A saudade é uma chama
que a lembrança faz arder:
um rosário que derrama
saudades dum bem querer.

A chama que ardeu cá dentro
mas que agora já não arde,
foi como o sol que se pôs,
com mágoa, ao cair da tarde.

Nem sempre é triste a velhice:
Também nos dá alegria.
Se acaso não existisse,
mais curta a vida seria.

(quadra de 2007 e a última do A.)

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