tem que seguir este lema:
uma estrofe cada verso,
todos juntos um poema.
Na vida tudo é mudável
as ideias vêm e vão:
o que ontem era aceitável
hoje, porém, não é bom.
Versos, versos que brotais
da cabeça, a toda a hora,
sois menina caprichosa
que o pobre vate namora.
Neste fado em que nasci,
seja manso ou seja fero,
faço versos quando calha
nunca os faço quando quero.
Poeta que tem a graça
de pensamentos profundos,
é qual um vento que passa
e faz revolver os mundos.
Fazer trovas e cantá-las,
qual rouxinol ao luar,
é o fadário dos poetas
em que se chora a cantar.
A História nunca regressa,
dizem tal os entendidos!
Porém, a gente tropeça
em sucessos parecidos.
Se eu não conheço quem sou
no meu íntimo profundo,
como hei-de tentar o voo
para conhecer o mundo?
Quando medito na vida
e mais na vida me afundo,
minha alma fica aturdida,
tem medo e foge do mundo.
Sino que não tem mulher,
vive sem ter um regalo:
é como um sino na torre
que dobra sem ter badalo.
É um abismo insondável
o que vai dentro da gente.
Quanta vez o coração
sente e não sabe o que sente.
Tem capricho a inspiração,
tem caprichos a ladina,
pois só vem de supetão,
como a morte repentina.
Sonho versos faço versos;
é sina, nasci assim.
Versos são mundos dispersos
a bailar dentro de mim.
Luz suave abençoada
desta manhã outonal,
és uma bênção dourada
nos campos de Portugal.
Numa trova pequenina,
de quatro versos somente,
brilha às vezes tanta luz
que deslumbra e espanta a gente.
Tão renhido é o desafio
que o mundo nos patenteia,
que não conto nem confio
que os homens mudem de ideia.
Para fugir à tristeza,
fora do mundo me ponho;
e construo, que beleza,
a catedral do meu sonho.
Uma quadra popular
não é fácil de fazer:
há-de ter luz do luar,
ou do sol a amanhecer.
Os versos que vou rimando,
com amor e com carinho,
são gritos que vou soltando,
ao longo do meu caminho
porque sinto este desejo
que no meu peito não cabe?
À pergunta em que me vejo,
a resposta é muito grave.
Poesia é caso mui sério,
tem muita profundidade;
é fogo que vem do etéreo
para descobrir a verdade.
Como as contas de um rosário
as horas vão uma a uma.
E nós, por triste fadário,
não vivemos em nenhuma.
Um momento de poesia,
que nos traz inspiração
é qual mulher fugidia
que nos beija com paixão.
Um vento passou por mim,
um vento por mim passou;
levou o meu pensamento,
tudo o que eu fui me levou.
Cada verso um pensamento,
cada rima, uma harmonia.
Cada estância um monumento.
A epopeia a luz do Dia.
Há um vento que tudo leva,
que nunca está sossegado,
e sendo dia faz treva
e no silêncio dá brado.
Canção da vida e da morte
há muito que a ando a cantar.
Isto de boa ou má sorte,
é, somente, o que calhar.
Vida que Deus nos vai dando
é um sol que vai fugindo;
os anos que vão passando
são noite que vai caindo.
É fadário do poeta
que lhe dá prazer e dor,
sentir a vida lá dentro
e cantá-la com amor.
Poesia é sonho divino,
que sai da alma do poeta,
para incendiar o mundo
com a sua chama inquieta.
Neste modo popular,
assim ao jeito do povo,
com ele eu quero cantar
para erguer um tempo novo.
Ninguém se julgue feliz
nem leve a vida em chalaça.
Num momento é-se infeliz,
de caras com a desgraça.
Há dias em que a cabeça
não gera a menor ideia.
Por mais que a gente lhe peça,
não arde a luz na candeia.
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